quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Continuação do relato

  E mais uma vez eu fui fazer a boa, acolhedora e cheia de amor por ele, foi a primeira vez que o vi chorando e que ele agradeceu por eu estar ali e depois de muito tempo sem falar isso, disse que me amava, eu cai de amores novamente e voltei a visitá-lo sempre. Nessa altura amiga minhas ja sabiam do relacionamento, minha familia desconfiava, chegavam ruidos de que eu corria perigo nos ouvidos da minha mãe, mas eu negava tudo e dizia que era bom cada uma cuidar de sua propria vida. As coisas foram piorando, ele foi ficando cada vez mais agressivo, não chegava a me bater, mas vivia nervoso com tudo. Um dia ele bateu tanto no irmão mais novo que de alguma forma perfurou o baço dele, eu não estava mais gostando do que estava acontecendo, ele se drogava e bebia demais, chegava caindo altas horas em casa e eu ia visitá-lo pela manha e o via caído no beco. Não queria essa vida pra mim.
Resolvi de uma vez por todas deixá-lo, foi um pesadelo, ele me mandava mensagens de ameaça, mandava os amigos me darem recados se me vissem na rua, foi um caos, eu não aguentava mais, o meu medo era tanto que eu nem queria sair de casa sozinha, cheguei a vê lo sentado em frente a minha casa de noite, varias vezes, eu ficava olhando da janela escondida, uma vez ele mandou uma amiga minha me chamar mas eu não estava em casa. Ainda bem.
  Não deu nem um mês e a mãe dele (que apesar de ser gente boa, achava que eu era babá do filho irresponsável dela) me ligou pra falar que ele estava no hospital internado, que havia caído do terceiro andar da casa deles, com ar de quem queria que eu fosse visitá-lo, desejei melhoras e não fui.   Ele quebrou a perna e se machucou bastante, mas sobreviveu e logo teve alta, me mandou uma mensagem com chantagens emocionais, dizendo que precisava me ver e conversar comigo, que não ia tentar me beijar e nem pedir pra voltar, ele precisava de uma amiga, depois de ter certeza do que ele dizia eu fui la, mas num dia péssimo, estava um alvoroço no beco, os familiares dele pareciam aflitos, a mãe dele veio ao meu encontro dizendo que o fulano tinha enlouquecido, bebeu demais, estava quebrando tudo e ainda queria que eu subisse pra acalmar a fera, eu estava com medo mas o jeito que me olhavam, como culpada de tudo o que estava acontecendo com ele, (culpada por não querer mais ser submissa a ninguém, só se for) eles me olhavam como se eu tivesse que resolver, afinal para eles fui eu quem começou tudo isso quando resolvi terminar com ele.
  Foi terrível, cada degrau que eu subia, ouvia mais estrondos de coisas sendo jogadas, gritos dele com uma voz embargada e ao mesmo tempo enrolada, como um bêbado mesmo. Quando ele me viu veio me abraçar chorando e eu asssustada me esquivei e então ele começou repetir feito um louco: -Você está com medo de mim amor? Eu te fiz alguma coisa? Está com medo de eu te machucar?  - eu fiquei sem reação, até que ele disse “Eu só tenho duas balas na arma” Eu comecei a chorar, pensei que ele fosse atirar em mim e depois nele, começou a me contar que ele não caiu do terceiro andar, ele se jogou e ainda por minha culpa, porque eu o deixei. Chantagista. Eu até acreditei, mas me mantive firme, comecei a conversar com ele, o sentei na cama, suas mãos sangravam porque ja tinha dado murros na janela e quebrado os vidros e o espelho, ele suava e o suor se misturava com lágrimas, o cheiro de álcool era muito forte, ele estava com as roupas rasgadas, quando consegui que ele ficasse quieto e deitado na cama, disse que ia descer pra buscar agua, peguei o telefone e liguei para um pessoal que cuida de pessoas viciadas aqui do bairro, eles vieram imediatamente e subiram ao encontro dele, ele xingava e jogava mais coisas, não parecia aceitar ajuda e gritava meu nome, a mãe dele percebeu que era arriscado (finalmente) e disse pra eu não subir mais la e eu fui pra casa, sem saber se ele se recuperou ou não. Eu fiquei pensando nele por dias, comecei a me sentir profundamente culpada mesmo sempre tentando ajudar.

  Hoje em dia acho que ele está bem, nunca mais o vi, só encontrei membros da família dele algumas vezes mas não tive coragem de perguntar sobre, sua mãe uma vez me disse:- Ele arrumou uma mulher de fibra, que colocou ele na linha. Eu me senti péssima, a verdade é que depois desses surtos dele ele se acalmou, o pai dele o levou pra morar em outro lugar e quando ele voltou ja estava mais tranquilo e ai que ele conheceu a atual namorada dele, ela sendo mulher de fibra e eu não, não faz diferença alguma, ele nunca foi responsabilidade minha, e nem é dela. Minha resposta foi simples: - Ele tem que entrar na linha sozinho porque a muito tempo deixou de ser criança, não responsabilize ela pelo seu filho.  

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