Sol
É manhã de segunda e parece o mesmo dia de ontem, as pessoas costumam reclamar dela por marcar o fim de belos domingos e iniciar uma semana cheia de coisas a se fazer, chefes estressados, trânsitos insuportáveis e essas coisas que jovens e adultos enfrentam diariamente.
Mas eu estou aqui sentada na minha cama de janela aberta
sentindo o sol esquentar meus pés e só pretendo me levantar quando essa luz
tomar conta de todo meu corpo, não tenho pressa alguma o que tenho é tempo. Não
trabalho, não estudo, não faço nada de útil pra sociedade ou talvez eu faça e
nem esteja sabendo, muito ajuda quem não atrapalha e sou uma pessoa a menos na
fila, no ônibus, na vaga de emprego, na sala de aula, estou ajudando alguém a
estar no meu lugar não estando e tudo bem o sol ainda bate nos meus joelhos,
não vou sair.
Já fui correria, hoje sou calmaria e desemprego, nunca
desespero, sempre sem dinheiro. Relembro os dias em que me apertaram no metrô,
do velho tarado que tentou se encostar em mim, da fila pra carregar o bilhete
do ônibus, do alvoroço no fundo da sala de aula, da fumaça que saia dos carros
na marginal e estico as costas tranquilamente, estou sozinha e segura em meu
quarto com o sol alcançando agora minhas coxas e cintura, ele se move rápido
quando lhe damos atenção necessária.
Tenho algumas idéias legais e umas roupas pra lavar, uma
carteira vazia e umas contas a pagar. Todos tem seu momento, acredito, esses
dias de vazio e tédio não irão me tirar do sério e quando isso estiver pra
acontecer eu vou me deitar e dormir não me importando com as horas, eu tenho
tempo. Tenho tempo pra continuar aqui mesmo depois que o sol me cobrir por
inteira, ele ja está quase em meus ombros.
Os cachorros do vizinho talvez sejam o único motivo do meu
ódio, não exatamente eles, mas os vizinhos que os deixam presos e saem para
suas vidas corridas, os cachorrinhos sem culpa e sem parar latem
desesperadamente para se soltarem, e os donos voltam de tardinha pra casa,
presos em suas rotinas mal olham seus cachorros presos no quintal e isso me
deixa mal, os latidos penetram em meus ouvidos como lanças, mas eu não posso
fazer nada além de fechar os olhos, a luz do sol está no meu rosto, me da sono,
preguiça, me faz relaxar, eu não tenho pressa de me levantar, eu tenho tempo pra
ficar e deixar que me aqueça.
Nenhum comentário:
Postar um comentário