quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Meu relato de relacionamento abusivo

Antes de começar com teorias e dicas, prefiro compartilhar o meu relato, foi justamente o que aconteceu comigo e tenho visto se repetir por ai que me levou a escrever a respeito. O texto é meio grande por isso será publicado por partes.

  Eu tinha mais ou menos 15 anos, me envolvi com um garoto de 17, só era mais velho e maior porque era mais imaturo que meu irmão mais novo. Nos conhecemos pela internet, ele era do meu bairro mas como eu havia me mudado recentemente e onde eu morava era mais reservado, não conhecia muita gente e quase ninguém me conhecia. Azar o meu.   Virava noites conversando com ele e durante o dia sonhava em encontrá-lo, até que marcamos, ele me convenceu a cabular o curso que eu fazia (eu nunca havia cabulado por nada) e o encontro foi na casa dele, eu me arrisquei cegamente, nem sabia se ele era um garoto mesmo ou se era um cara mais velho, estuprador, maníaco sei la.
  Cheguei na rua e la estava ele, sentado na porta de casa me esperando, bem mais alto do que eu pensei, menos bonito também, mas eu ja estava apaixonadinha então não fez a menor diferença. A familia dele estava me esperando, morri de vergonha, eram pessoas legais mas eu mal conhecia ele e foi uma barra ter que conhecer todos de uma vez, mas deu certo e no mesmo dia subimos pro quarto, perdi a hora de voltar pra casa, la não tinha sinal no celular e minha mãe ja tinha tentado me ligar muitas vezes. Ja estava escuro, eu não sabia muito bem andar por la e ele me acompanhou até o final da rua dele, nos pegamos mais um pouco e sai correndo pra algum lugar que tivesse sinal pra eu ligar pra minha mãe e dar uma desculpa.
  Os dias foram passando e eu descobri que ele era o “famosinho da quebrada”, era Dj e todos queriam ter atenção dele, ai eu me achei, me senti a famosinha também e a poderosa (inocente), nós mal saíamos juntos, ele não me convidava no inicio e eu não podia ficar bobeando com um cara na rua sendo que minha família não o conhecia, ele não estava muito afim de conhecê-los também e eu não estava segura de fazer isso, mesmo perdidamente apaixonada.
  Com pouco menos de 3 meses ele queria que tivéssemos algo mais intimo, mas eu era virgem e morria de medo, eu não confiava nele de verdade e sonhava em perder minha virgindade com alguém digno pelo menos da minha confiança, não sei bem porque eu não confiava nele, ate esse momento ele não tinha me decepcionado em nada, mas era minha intuição falando super alto. Até tentei, mas não rolou, não consegui ter a relação e tentamos por uns 3 dias e ele ficou furioso, parecia um bicho no cil, louco. Eu fiquei com medo. E muito mais tempo passou, ficamos juntos por quase 2 anos, nesse relacionamento escondido, porque o que eu havia descoberto dele me envergonhava e não tinha coragem de levá-lo em casa, e também eu estava tão desnorteada que nem parecia que eu tinha família, eu me isolei deles e das amigas e amigos. Eu notei que ele não havia mais tentado me levar pra cama, nem as brincadeirinhas estavam acontecendo, e comecei a desconfiar de possíveis traições, afinal o cobiçado do bairro sempre tinha uma ou outra dando mole, das poucas vezes que saímos do quarto dele juntos, deu pra perceber. Ele so me apresentava para os amigos de trabalho mesmo porque eles ficavam todos no estúdio que ele tinha em casa, até um deles me dar uma cantada e ele quase derrubar a casa encima do menino, eu me achei muito mais por isso, me fiz de frágil para que ele me defendesse e ele me defendeu quebrando a cara do outro (que absurdo). Ele vivia com roupas novas, tênis, bonés e as vezes me dava uns presentes legais também, não eram coisas que eu compraria normalmente, meu estilo sempre foi mais conservador, e ele e comprava uns vestidos apertado, shorts curtíssimos e eu usava, afinal eram presentes, mas eu só usava quando ele estava comigo, ele “tinha ciúmes até da roupa que eu usava” (quem nunca ouviu uma mina dizer isso?) eu me sentia amada, protegida e desejada por ele, mas ele não estava mais trabalhando como Dj, os jobs estavam parados  segundo ele e que estava procurando um emprego normal pra ser registrado e comprar nossa aliança (OK, ele gastava rios de dinheiro em roupas caras sem ter trabalho e não tinha grana pra comprar nossa aliança? Eu não pensava direito, só pode ser).
  Foi então que passei o dia todo na casa dele e ele na rua com os amigos e acabei dormindo ate de noite, acordei com ele entrando rápido no quarto batendo a porta e me acordando, pediu pra que eu vestisse uma blusa dele e colocasse uma garrafa por dentro dela e o seguisse, eu fiquei perguntando o que era até que ele apertou o meu braço e disse “Só faz o que eu to mandando”, desci e o segui calada, assustada. Quando saimos da casa dele e chegamos num beco escuro, ele pediu pra que eu entregasse a garrafa e me disse que era lança perfume, eu surtei, comecei a brigar com ele, eu sempre fui totalmente contra esse tipo de droga  e ele me interrompeu dizendo “É assim que eu me banco e você só tem que ficar de boa, não esta usando, só vai me ajudar quando for preciso, não precisa se desesperar...bla bla bla” me acalmei e aceitei, fiz isso outras vezes, maior burrada da minha vida, ele era traficante por isso essa fama toda, ele estava me usando pra carregar as drogas dele e eu ainda levei numa boa, eu não podia deixar ele sozinho, se algo não saísse conforme os planos ele poderia ser preso ou perder alguma coisa e acabar se dando mal, eu tinha que ajudar, não podia perdê-lo.
  E mais tempo passou, nós nunca tivemos relação sexual, ele não me procurava e nem tentava, se eu não aparecia na casa dele, não o via, ele nunca vinha atras de mim, e quando eu ia la, ouvia um monte dele, quer dizer, se ele estivesse num dia bom era recebida bem, se não, ele esbravejava e dizia que não ia ficar me procurando e que era obrigação minha ir na casa dele, afinal alguém tinha que cuidar das coisas dele, a família dele sempre foi um amor, me tratavam super bem e não faziam ideia do que eu passava com ele, éramos bem discretos e ele sempre colocou na minha cabeça que nossos problemas resolvemos sozinhos.
  Eu ja tinha perdido o controle de tudo, ate da minha vida, ele me xingava sem eu nem ter feito nada, me empurrava, ficava de conversa com outras meninas, não queria conhecer minha família, e me trancava no quarto com ele pra ficar massageando as costas dele, acariciando e servindo sei la do que. Não era mais uma relação de casal, parecia mais escravidão pra mim, mas eu ainda era apaixonada por ele, não podia perder "o cara mais requisitado das quebradas"- que bosta!

  Depois de um ano e meio eu ja conhecia todos os amigos, saia com ele para as festas mas ele sempre sumia, e eu ficava cercada de amigas dele, que na verdade encobriam ele enquanto beijava outras sem eu saber. Mas depois quem voltava com ele bêbado pra casa, fedendo e irritado era eu, sempre. O curso que eu cabulava pra ficar com ele acabou, comecei outro e conheci outras pessoas que tinha mais a ver com quem eu costumava ser antes desse relacionamento, e eu resolvi sumir uns dias da vida do cara, achei que ele não viria atras mesmo, não veio pessoalmente mas uma semana que não o vi, a mãe dele me liga dizendo que ele estava preso, foi meu desespero, fui correndo na casa dele, arrumava as coisas pra levar pra ele, dava uma força pra família, ja na outra semana chegou uma carta dele e basicamente dizia: Se você ficar com outra pessoa enquanto eu estiver preso eu vou saber e quando sair você me paga. Eu jurava que ia ler coisas de amor e saudade naquela primeira carta, mas não, e fiquei com muito mais medo do que ja estava, continuei ajudando a familia dele, e mesmo com medo me senti importante, achei que ele estava me protegendo que sentia minha falta, mesmo sem demonstrar nada disso, eu respondi feito uma tola aquela carta, cheia de palavras de amor e uns desenhos que eu fazia e que deve ser uma das poucas coisas que em que ele me elogiava, nas outras duas cartas ele foi mais amoroso pelo menos. Depois ele saiu, não ficou nem 3 meses la, tinha feito assalto a mão armada, mas a vitma não o reconheceu, na verdade reconheceu, mas foi ameaçado pelos caras do bairro e teve que mentir.

Continua.

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